Queria que visses como consigo viver a minha vida perante as
minhas regras, a minha dedicação, o meu tempo, a minha ambição. Queria que
visses como consigo ser a mesma sendo tantas personalidades ao mesmo tempo.
Como consigo estar no meu silêncio ou como estou numa tempestade de bons
trovões. Queria que vivesses comigo. Mais do que já vives: fisicamente. Queria
tocar na tua mão. Chamar o teu nome. Tocar no teu braço… Queria que todos os
dias visses que eu sou uma mulher como tu. Que me amo tal como te amavas, que
vivo os segredos dos meus dias tão discretamente quanto é possível. Queria
tocar-te. Chamar-te de Mãe. Poder resmungar contigo. Que visses como construo,
todos os dias, a minha vida de consciência tranquila e com garra em cada ação
que planeio. Queria que visses como sou feliz e como o sei ser silenciosamente.
Que olhasses, sentada na tua cadeira, e da tua voz saísse o orgulho por já ser
uma Mulher como tu. Como sei que tanto querias… Como eu sei que tanto queria
ser… Por ti, por mim, por todos aqueles que acreditaram no que fui e no poderei
vir a ser. Morreste… Num universo onde vai embora quem deveria viver
eternamente. E na inocência da minha alma triste só queria que visses como sou
o rebento que tanto desejaste. A menina que seguiu e fugiu de todos os caminhos
menos dos que me deixaste para viver: esses que foram aqueles que me deixaste
escolher. Todos os dias sinto que deverias estar cá, ao nosso lado. Que nunca
deverias ter partido. Que nunca devia ter permitido que o cancro te matasse.
Triste choro porque te queria sentir o abraço… Em paz acordo e me deito porque
sei que vives através do que sou. Eu só queria que visses como consigo viver a
minha vida no meio do trânsito que as cores do meu dia possuem. Que
orgulhosamente me abraçasses. Que felicíssima seria… Ao ver os teus olhos de
novo. Ao encostar a minha cabeça na tua quando os dias fossem menos simpáticos,
mais umas vezes. Morreste e eu só desejava poder continuar a chamar-te do
quarto ao lado. Queria que visses, que ouvisses, que tocasses, que sentisses…
Mas morreste e, por isso, entre as lágrimas que escorrem quando a saudade
aperta mais que a serenidade, sou um bocadinho menos feliz. E quem me dera
conseguir esconder isto de ti… Ou quem me dera que me safasses dos momentos em
que não sou mais nada do que um coração explodido e triturado. Queria que me
visses. Que por entre o teu sorriso se destaca-se o orgulho por ser a tua
menina grande… Que fora destes momentos tenho todos os sonhos do mundo e que
ninguém consegue parar a vontade que tenho de viver. De conhecer. De te dar a
conhecer (porque todos que em algum instante da vida se deparam comigo levam um
bocadinho de ti…). Mãe, infelizmente o verbo querer prenuncio-o no futuro.
Infelizmente, deixaram com que o teu corpo ficasse para trás. Felizmente,
consegues viver em mim... Felizmente, independentemente de tudo, viverei
contigo. Saberás todos os meus pormenores, todas as minhas dores, todas as
minhas alegrias… Saberás que sou o que quero ser e que ninguém tem poder sobre
as asas que pousam no meu ser. Felizmente a tua raiz em mim é mais forte que
qualquer ausência, mais robusta que qualquer dor, mais potente que qualquer
buraco negro que possa viver. Felizmente és o que eu sou. Eu só gostava que
tivesses vivido na minha morada mais tempo… Agora és um anjo. O meu anjo. A
minha estrela. Um anjo com todas as formas de amor e esperança e paz possível.
O espaço na minha vida que jamais será preenchido por outro lar. Gostava e
queria que me visses… Mas agora és um anjo. E só nas minhas asas viverás…
Um abraço, minha, Mariana*
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